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Eu não gosto de ir no supermercado. Ou talvez eu goste.

  • Foto do escritor: Marcos Candian
    Marcos Candian
  • 20 de jul.
  • 2 min de leitura

Atualizado: 28 de jul.


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Eu não gosto de ir ao supermercado. E não é drama. Eu explico: as luzes fluorescentes me lembram sala de espera de hospital, as filas me causam uma ansiedade que só Freud explica, e a lógica dos corredores do hortifruti parece feita para humilhar um advogado que não entende sobre a qualidade das frutas.


Tem aquelas senhoras que giram, apertam e devolvem o mamão como se tivessem doutorado em alimentos pela Sorbonne de Paris, e eu fico ali, fazendo a mesma coisa, sabendo que não convenci ninguém e correndo pra ir embora antes que isso fique óbvio demais.


Também me incomoda profundamente o sistema de precificação. Frequentemente tem aquelas charadas do tipo "leve três e pague dois" e você precisa ficar calculando pra saber quais são as opções mais adequadas ao bolso e descobrir se não é tudo uma grande cilada.


E tem o labirinto, feito pra você dar tantas voltas, se irritar com a velhinha que anda devagar com o carrinho na sua frente, e comprar o que você não lembrava que precisava. Isso ainda sem falar no teste das sacolas, que ficam todas grudadas e retirá-las vira uma prova do "passa ou repassa".


Mas aí… tem ela. Com ela, o supermercado é outra coisa.


A lista de compras vira um roteiro de comédia romântica.


Ela pergunta se eu tenho alho e cebola em casa, eu respondo que sim, mas que não sei se ainda são cebolas e alhos ou fósseis na geladeira. Ela pergunta se eu tenho arroz, eu digo que talvez. Isso se ele não foi embora ao perceber que provavelmente eu o queimaria feio, na primeira oportunidade.


E então, ela pega as frutas certas e ainda dá um jeito de me ensinar sem me fazer parecer um completo inútil na matéria - o que, convenhamos - eu sei que sou, e que vou demorar pra aprender. E aí eu percebo que com ela, até enfrentar a fila vale a pena. A gente comenta sobre o casal da frente, reclama dos preços como dois aposentados e ri como dois adolescentes. A espera vira aconchego. E o supermercado, aquele lugar que antes me sufocava, vira quase um lar. E no fim, acho que talvez eu possa sim, um dia, gostar de ir ao supermercado. E que, talvez, o problema era só a falta dela. Porque entre o "pega o morango" e "não esquece de pesar o mamão", tem um estoque de carinho entre nós, que só o supermercado consegue nos mostrar.

 
 
 

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